Empate no Crepúsculo

O Jogo Que Recusou Ser Decidido
Terminou às 00:26:16 do dia 18 de junho — após 96 minutos de batimentos sincronizados com apitos e camisas sujas de lama. Volta Redonda e Avaí empataram em 1 a 1 na Rodada 12 do Campeonato Brasileiro Série B, mas não foi um desses empates vazios esquecidos até terça-feira.
Diferente.
Já vi tantos jogos para saber quando o ritmo muda como placas tectônicas sob o gramado. E este? Inclinou duas vezes — uma para cada time — e se estabilizou num equilíbrio mais próximo da harmonia do que da resolução.
Dois Times, Uma Alma
Volta Redonda — fundado em 1954 no coração industrial do Rio de Janeiro — joga com orgulho azul e branco que parece mais antigo que muitos clubes modernos. Não são glamurosos. Não são ricos. Mas são implacáveis. Seus torcedores se chamam “os guris do fundo” (os meninos de trás), um reconhecimento à identidade de underdog.
Avaí? Fundado em Florianópolis em 1923, vive da tradição costeira e lealdade local inabalável. Seu escudo tem três estrelas — não por títulos, mas pela resiliência diante de falências, rebaixamentos e turbulências políticas.
Ambos vivem acreditando mais do que nos balanços financeiros.
O Jogo: Uma Luta Pelo Controle
O primeiro gol veio cedo — Volta Redonda aproveitou um erro defensivo perto da metade-campo. Um cruzamento baixo do lateral direito Lucas Mendes entrou no canto contrário, sem chance para o goleiro do Avaí, aos 34 minutos. A torcida se levantou como um só.
Mas o Avaí respondeu como homens que não podiam permitir silêncio.
Aos 78 minutos, o meio-campista Rafael Ribeiro bateu de fora da área — um chute tão preciso que deixou espaço apenas para a admiração. O estádio arregalou os olhos antes de explodir.
Depois veio o tempo extra — aquele em que os jogadores já não caem; desabam uns nos outros como sobreviventes exaustos.
Nenhum gol foi marcado… mas a tensão permaneceu espessa demais para cortar com uma faca.
Por Que Este Empate Vale Mais Do Que Parece
No papel? Resultado neutro. Mas olhe além dos números:
- Volta Redonda: +3 gols sofridos nas últimas cinco partidas (falhas defensivas).
- Avaí: Apenas duas limpas nesta temporada — mas nunca perdeu após o intervalo desde abril.
- Ambos média menos de 0,8 xG por jogo — sinal de inefficiência… mas também força bruta sobre perfeição.
Na Série B, onde as margens são mais finas que uma peneira de café, sobreviver não é marcar sete gols — é recusar morrer em silêncio entre o intervalo e o apito final.
E ambos fizeram exatamente isso hoje — com dignidade preservada e espíritos intactos.
O Coração dos Torcedores Late Mais Forte Que Qualquer Estatística
The arquibancada atrás da meta A ainda vibra com coros mesmo agora – “Nós não vamos desistir!” Em São João del Rei e Curitiba igualmente, famílias se reúnem frente ao televisor após jantar só por esses momentos – para se sentir vivas novamente através da coragem alheia. Pessoas não se importam com rankings da FIFA ou pontuações ELO – elas querem isto: um jogador caindo… mas levantando porque sua cidade está assistindo, uma região inteira segurando a respiração até o apito final, um único jogo que prova que pertencer significa mais que vitória mesma.